Parada agrícola
que não está associada a nenhum elemento festivo religioso. A Parada foi
promovida pela Associação de Agricultura Famalicense e Associação Comercial e
Industrial.
O primeiro carro foi o «Carro da Associação da
Agricultura Famalicense, com alfaias agrícolas, puxado por 5 juntas de bois,
com as lindas cangas arrendadas e caracteristicas da provinda, guiando os bois
belas cachopas minhotas, que as não ha mais formosas». Como se pode ver, o par
de mulheres voltou a ser imprescindível na condução dos bois que levavam cangas
da região e, para quase todos os observadores de fora, com características
claramente diferentes das de outras zonas geográficas, como tratou de
especificar o jornalista ao referir as mesmas. O carro da «Associação Comercial
e Industrial» foi mais alegórico uma vez que levou uma figura da Fama sobre um
obelisco e também fez publicidade aos produtos locais, porque transportava
«caixas, fardos, barris, com as marcas de negociantes de Famalicão é quanto
este carro conduz, além de creanças que distribuem reclamos».
No entanto, não foi
o único que teve esta linha comercial porque foram descritos bastantes carros
que tinham essa intenção e que ganharam prémios da «indústria». Este tipo de
carros em geral serviu para refletir avanços técnicos no mundo agrícola, e
assim aconteceu com o carro
da «firma Pinto Basto, de Lisboa, de rêclamo ao citrato de sodio» que estava
«lindamente decorado de pinturas e mereceu o Premio especial de medalha de ouro
e diploma de honra». Também houve um «Carro de Bombas de pau,» no qual se publicitaram os «trabalhos do artífice
Manuel Rodrigues» e que ganhou o terceiro prémio da Indústria. O dos
fertilizantes químicos, o «Carro dos Castelões» do senhor Manuel Torres,
«exemplificava o efeito dos adubos na terra que fazia germinar com exuberancia
e da terra arida e sêca por no lhos aplicarem» pelo que recebeu o segundo
prémio. O quarto foi para o «Carro de J. Rocha: réclamo à casca de carvalho de
que se faz grande exportação». Mas nem todos os carros publicitários vieram de
fora, uma vez que houve dois da localidade:
«Carros da Casa
Portela, de Famalicão, o primeiro dos quaes era de réclamo às diferentes
alfaias agricolas que fabrica e que levava à frente uma rapariga empunhando um
estandarte onde se lia Honra e Trabalho, e tendo pendente as medalhas que esta
casa tem obtido em varias exposições. O segundo carro era de réclamo aos adubos
quimicos que a mesma casa fornece. Bem decorados estes carros, tiveram dois
primeiros premios».
A todos eles, e
talvez não isento de uma propaganda mais pessoal do que económica, o comentador
juntou outros três que remetiam para essas construções alegóricas que tinham
desfilado no Porto. Nalguns casos foi indicada a sua origem, como aconteceu com
o «Carro da Freguezia de Gondifellos»
que foi levado pelo «sr. Duarte de Menezes e outros proprietários,
representando a casa de um moinho com todas as pertenças, incluindo agua,
moleiro e jumento, tudo caracteristico da localidade», e que conquistou o
primeiro prémio da Agricultura. Os outros dois prémios desta secção foram
para dois carros que representavam trabalhos da região; o segundo foi para o
«Carro da Malhada, do sr. Antonio José Barros de Faria, representando a malhada
e alimpa (sic) do centeio», enquanto o terceiro foi para o «Carro da Esfolhada
do sr. Antonio Gomes da Silva Brandão, interessante scena de vida dos campos».
«Outros carros ainda
se viam no cortejo, de menos importancia, não obstante merecerem os premios que
lhe fôram conferidos», dos quais se fotografou o «Carro das azenhas»
«Foi uma festa e um
certamen proveitoso, de incitamento ao trabalho e ao progresso com que Vila
Nova de Famalicão se honrou».
O que pode ser
interessante é a maneira como iam vestidas as mulheres que guiavam as juntas,
sobretudo se as compararmos com os trajes estilizados do Carnaval do Porto e
com as suas reproduções lisboetas; a diferença salta à vista e mostra a
influência das imagens do século XIX, seja através de livros como A Arte e a Natureza em Portugal de
Emílio Biel, ou de postais, muitos deles editados em Viana do Castelo.
Fonte:
Mingote Calderón, J.L. (2022). Das Paradas agrícolas aos cortejos etnográficos
em Portugal. Afrontamento.